terça-feira, 10 de julho de 2018

Num mundo de absurdos

O esforço para resgatar os meninos presos numa caverna é algo que não combina com o empenho humano em favor da morte. Enquanto tudo é feito para tirar pessoas de um buraco, milhares são esquecidas nas cavernas da fome, doença, guerra... Mas, este é o ser humano, que salva e que mata, protege e abandona. Tudo ao mesmo tempo. É o amor e o ódio misturados numa arritmia cardíaca, e por isto, tanta inconstância.  Igual ao Brasil impulsivo em manóbras jurídicas, que prende e que solta, onde ninguém se entende. Igual aos canarinhos que encantam e desencantam diante de uma torcida que se alegra e se entristece, tudo ao mesmo tempo.

Uma contradição que, no entanto, tem saída. Igual ao resgate dos meninos da Tailândia numa humanidade que esquece outros meninos. Saída que não está no coração humano, nem no esforço dele. Está lá fora, lá em cima. Até porque, ninguém sai de um buraco profundo se alguém de fora não estender a mão. É o que diz Pedro aos judeus que sucumbiam sob a pedra que também podia salvá-los: “A salvação só pode ser conseguida por meio dele. Pois não há no mundo inteiro nenhum outro que Deus tenha dado aos seres humanos, por meio do qual possamos ser salvos” (At 4.12). Aliás, outra contradição. Quem descreve é Simeão com Jesus nos braços: “Este menino foi escolhido por Deus tanto para a destruição como para a salvação” (Lc 2.34). Daí a insistência de Pedro ao apontar para o tubo de oxigênio: “Arrependam-se e voltem para Deus” (At 3.19). Ou seja, o sopro da vida vem dos céus.

Numa terra cheia de buracos onde a morte sempre tenta nos aprisionar, surge o parodoxo da vida. É o bem que vence o mal, mesmo quando tudo parece estar perdido. É a luz no fim do túnel: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá, e quem vive e crê em mim, nunca morrerá” (Jo 11.25). Pode ser um grande absurdo, mais é a única saída.


Pastor Marcos Schmidt

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